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1.0.4Preliminares Matemáticas

Universidade Federal de Campina Grande
Carl Friedrich Gauss (1777-1855), Bernhard Riemann (1826-1866), Élie Cartan (1869-1951), Henri Poincaré (1854-1912)

Figure 1:Carl Friedrich Gauss (1777-1855), Bernhard Riemann (1826-1866), Élie Cartan (1869-1951), Henri Poincaré (1854-1912)

Geometria Diferencial

Tensores Isotrópicos (em 3D)

Um tensor é dito isotrópico se a sua representação em coordenadas é a mesma para todos os sistemas de coordenadas que podm ser obtidos por rotações.

É trivial observar que os escalares são isotrópicos e o único vetor isotrópico é o vetor nulo.

Para objetos tensoriais de posto 2 começamos a encontrar objetos não triviais. Considere uma matriz AA, se esta é isotrópica temos:

A=RART,A = RAR^T,

onde RR são matrizes de rotação arbitrárias. Atacar este problema com as matrizes de rotação pode ser assustador, contudo, podemos escrevê-las em termos dos geradores do grupo de rotação, usando o fato de que o grupo de rotações é ortogonal e usando a fórmula de hadamard obter uma resposta simples para o problema:

R=eωLRT=R1=eωLeBCeB=1n![[[[C,B],B],B]][ωL,A]=0ωL=(0zyz0xyx0)\begin{align} R &= e^{\mathbb{\omega} \cdot \mathbb{L}} \\ R^T &= R^{-1} = e^{-\mathbb{\omega} \cdot \mathbb{L}} \\ e^{B} C e^{-B} &= \sum\frac{1}{n!}[\ldots[[[C, B], B],B]\ldots] \Rightarrow \\ [\mathbb{\omega} \cdot \mathbb{L}, A] &= 0 \\ \mathbb{\omega} \cdot \mathbb{L} &= \begin{pmatrix} 0 & -z & y \\ z & 0 & -x \\ -y & x & 0 \end{pmatrix} \end{align}

Portanto a única matriz isotrópica (tensor de posto 2) é proporcional a δij\delta_{ij}.

Para construir um invariante com posto três é necessário usar a álgebra dos geradores, vamoas omitir os detalhes e apenas enunciar de ϵijk\epsilon_{ijk} é o tensor isotrópico de ordem 3.

Operador Diferenciais em Coordenadas Cartesianas

De um ponto de vista mnemônico, podemos construir o operador nabla:

=eixi, \nabla = e_i \frac{\partial}{\partial x^i},

com o qual escrevemos, exclusivamente para coordenadas cartesianas:

f=fxieigradienteA=iAidivergente[×A]i=ϵijkjAkrotacional\begin{aligned} \nabla f & = \frac{\partial f}{\partial x^i} e_i & \quad \textbf{gradiente}\\ \nabla \cdot \vec{A} &= \partial_i A^i & \quad \textbf{divergente}\\ [\nabla \times \vec{A}]_i & = \epsilon_{ijk} \partial^j A^k & \quad \textbf{rotacional} \end{aligned}

Mudanças de Coordenadas

Considere agora um novo sistema de coordenadas locais não-cartesiano (ξ1,ξ2,ξ3)(\xi^1, \xi^2, \xi^3) dado por funções

ei=rξiei=xjξiej=Jjiej\begin{aligned} e_i'&= \frac{\partial \vec{r}}{\partial \xi^i}\\ e_i' &= \frac{\partial x^j}{\partial \xi^i} e_j = J^j{}_i e_j \end{aligned}

Um vetor é um objeto geométrico invariante por mudanças de coordenadas, logo

X=Xiei=XjejXj=ξjxiXi=J1ijXi\begin{aligned} X &= X^i e_i = {X^j}' e_j' \Rightarrow \\ {X^j}' &= \frac{\partial \xi^j}{\partial x^i} X^i = {J^{-1}}_i^jX^i \end{aligned}

Coordenadas Curvilíneas Ortogonais

Variedades Diferenciais, vetores e formas diferenciais

Uma variedade diferencial MM de dimensão nn é um espaço topológico que localmente se parece com Rn\mathbb{R}^n e admite um atlas de cartas coordenadas sobre as quais podemos definir funções suaves e derivadas.

Uma Variedade diferencial e algumas aplicações lineares discutidas no texto abaixo.

Figure 2:Uma Variedade diferencial e algumas aplicações lineares discutidas no texto abaixo.

Para definir vetores em uma variedade é necessário compreender que os vetores são objetos locais e não globais, formando um espaço vetorial de mesma dimensão, para cada ponto da variedade.

Visualizando os espaços tangentes da esfera S^2.

Figure 3:Visualizando os espaços tangentes da esfera S2S^2.

Para realizar esta construção e revelar as suas propriedades, vamos considerar um ponto pMp \in \mathcal{M} e um conjunto de curvas suaves γ:(ϵ,ϵ)RM\gamma: (-\epsilon, \epsilon) \in \mathbb{R} \mapsto \mathcal{M} tais que γ(0)=p\gamma(0) = p. Este conjunto de curvas na variedade tem coordenadas em Rd\mathbb{R}^d e podemos escrever o vetor tangente a curva no ponto pp sem ambiguidade. O que ainda deve ser levado em conta é que muitas curvas passando por pp possuem o mesmo vetor tangente, mas esta propriedade é uma relação de equivalência e podemos definir:

Visualizando os espaços tangentes como a derivada direcional.

Figure 4:Visualizando os espaços tangentes como a derivada direcional.

Esta definição é equivalente a dizer que os vetores são operadores lineares que implementam uma diferenciação no espaço das funções suaves sobre M\mathcal{M}, X(M)\Chi(\mathcal{M}). A ação dos vetores é dada pela derivada direcional:

vp[f]=D[γ]pf=(fγ)tt=0=(f(xi(t)))tt=0=fxiγ(0)xitt=0=fxipvi\begin{aligned} v_p[f] &= D_{[\gamma]_p} f \\ &= \left. \frac{\partial (f\circ \gamma)}{\partial t} \right \rvert_{t=0}\\ &= \left. \frac{\partial (f(x^i(t)))}{\partial t} \right \rvert_{t=0} \\ &= \left. \frac{\partial f}{\partial x^i}\right \rvert_{\gamma(0)} \left. \frac{\partial x^i}{\partial t} \right \rvert_{t=0} \\ &= \left. \frac{\partial f}{\partial x^i}\right \rvert_{p} v^i \end{aligned}

O espaço tangente TpMT_pM em um ponto pMp\in M é o espaço vetorial formado pelos vetores tangentes às curvas em MM que passam por pp.

Em coordenadas locais (x1,,xn)(x^1,\dots,x^n), uma base de TpMT_pM é

{x1p,,xnp}.\left\{ \frac{\partial}{\partial x^1}\Big|_p, \dots, \frac{\partial}{\partial x^n}\Big|_p \right\}.

O espaço cotangente TpMT_p^*M é o dual de TpMT_pM, isto é, o espaço das formas lineares que agem sobre vetores tangentes.

A base dual é dada por {dx1p,,dxnp}\{dx^1|_p, \dots, dx^n|_p\}, com dxi ⁣(xj)=δjidx^i\!\left(\tfrac{\partial}{\partial x^j}\right)=\delta^i_j.

Em coordenadas, uma 1-forma é

α=αi(x)dxi,\alpha = \alpha_i(x)\,dx^i,

e uma 2-forma é

β=12βij(x)dxidxj,βij=βji.\beta = \tfrac{1}{2}\beta_{ij}(x)\,dx^i\wedge dx^j,\quad \beta_{ij}=-\beta_{ji}.

Em uma variedade nn-dimensional, o espaço de pp-formas Ωp(M)\Omega^p(M) tem dimensão

dimΩp(M)=(np).\dim \Omega^p(M)=\binom{n}{p}.

A derivada exterior d:Ωk(M)Ωk+1(M)d:\Omega^k(M)\to\Omega^{k+1}(M) é definida por:

Exemplo em R3\mathbb{R}^3:
Se α=fdx+gdy+hdz\alpha = f\,dx+g\,dy+h\,dz, então

dα=(xgyf)dxdy+(yhzg)dydz+(zfxh)dzdx.d\alpha = (\partial_x g - \partial_y f)\,dx\wedge dy + (\partial_y h - \partial_z g)\,dy\wedge dz + (\partial_z f - \partial_x h)\,dz\wedge dx.

Aplicações de tensores e campos

Dadas duas variedades M,N\mathcal{M}, \mathcal{N}, e funções suaves χ,ψ,f\chi, \psi, f como no diagrama:

RχMfNψR,\mathbb{R} \xleftarrow{\chi} \mathcal{M} \xrightarrow{f} \mathcal{N} \xrightarrow{\psi} \mathbb{R},

Vemos que a aplicação ψ\psi induz uma função sobre $\mathcal{N}:

MfNψRψf:MR,\mathcal{M} \xrightarrow{f} \mathcal{N} \xrightarrow{\psi} \mathbb{R} \\ \psi \circ f: \mathcal{M} \rightarrow \mathbb{R},

contudo a operação semelhante com a função χ\chi necessitaria da inversa de ff que não assumimos que exista. Nesta situação, vemos que funções são transportadas “seta acima”, ou seja, elas são pulled back.

Funções são campos tensoriais de tipo (0,0)(0,0).

Métrica

Em uma variedade M\mathcal{M} em que consideramos tensores arbitrários (p,q)(p, q), existe um tensor canônico do tipo $(1, 1) que se constitui no pareamento canônico:

1^V,αα,V1^V,=V,1^,α=α1^=dxij1^j1=δji\hat{\mathbb{1}} \langle V, \alpha \rangle \langle \alpha, V \rangle \Rightarrow \hat{\mathbb{1}} \langle V, \cdot \rangle = V, \hat{\mathbb{1}} \langle \cdot, \alpha \rangle = \alpha \\ \hat{\mathbb{1}} = dx^i\otimes \partial_j \Rightarrow \hat{\mathbb{1}}^1_j = \delta^i_ j

Um tensor (0,2)(0,2) positivo definido define uma métrica riemanniana na variedade, com a qual é possível construir:

Visualizando os espaços tangentes, cotangente, pullback, pushforward e isomorfismos musicais.

Figure 5:Visualizando os espaços tangentes, cotangente, pullback, pushforward e isomorfismos musicais.

Em uma variedade orientada com métrica gg, a forma de volume é

vol=gdx1dxn,\mathrm{vol} = \sqrt{|g|}\, dx^1\wedge\cdots\wedge dx^n,

onde g=det(gij)|g|=\det(g_{ij}).

A coderivada δ:Ωk(M)Ωk1(M)\delta:\Omega^k(M)\to\Omega^{k-1}(M) é definida via o Hodge:

δ=(1)n(k+1)+1d.\delta = (-1)^{n(k+1)+1} d.

Ela é o adjunto formal da derivada exterior em relação ao produto interno definido pela métrica.

O Laplaciano de Hodge é

Δ=dδ+δd.\Delta = d\delta+\delta d.

Em funções escalares (0-formas), em Rn\mathbb{R}^n euclidiano, reduz-se ao Laplaciano usual

Δf=i=1ni2f.\Delta f = \sum_{i=1}^n \partial_i^2 f.

Os operadores diferenciais usuais em 3 dimensões podem ser definidos de forma simples com este formalismo:

A  (vetor)bAb  (1-forma)(2-forma)d(3-forma)(0-forma)\mathbf{A}\;(\text{vetor}) \xrightarrow{\,b\,} \mathbf{A}^b\;(\text{1-forma}) \xrightarrow{\,\star\,} (\text{2-forma}) \xrightarrow{\,d\,} (\text{3-forma}) \xrightarrow{\,\star\,} (\text{0-forma})
X=d(X)=1h1h2h3iui(h1h2h3hiXi).=1gi ⁣(gAi),\nabla \cdot X = * d (X^\flat) = \frac{1}{h_1 h_2 h_3} \sum_i \frac{\partial}{\partial u^i}\Bigg( \frac{h_1 h_2 h_3}{h_i} X^i \Bigg). = \frac{1}{\sqrt{|g|}} \partial_i\!\bigl(\sqrt{|g|}\, A^i\bigr),
Δf=δdf=ddf=1h1h2h3iui(h1h2h3hi2fui)=1gi ⁣(ggijjf).\Delta f = \delta d f = - d df = \frac{1}{h_1 h_2 h_3} \sum_i \frac{\partial}{\partial u^i} \Bigg( \frac{h_1 h_2 h_3}{h_i^2} \frac{\partial f}{\partial u^i} \Bigg) = \frac{1}{\sqrt{|g|}} \partial_i\!\Bigl(\sqrt{|g|}\, g^{ij}\partial_j f\Bigr).

Vamos utilizar este poderoso formalismo para revelar a estrutura íntima das equações de Maxwell.